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O tratado de paz egípcio-israelense celebra 40 anos: qual foi o seu impacto e o que pudemos aprender

April 30, 2019

Por Ken Stein

No final de tarde tempestuoso do dia 17 de setembro de 1978, na presença do presidente americano Jimmy Carter como testemunha, o presidente egípcio Anwar Sadat e o primeiro-ministro israelense Menachem Begin dirigiram-se a uma mesa na Casa Branca e assinaram os Acordos de Camp David, que consistiam em dois acordos-quadro: um que esboçava o tratado de paz entre Egito e Israel e o outro que dava respaldo para planejar o autogoverno dos Palestinos que viviam na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, sob domínio de Israel desde a guerra de junho de 1967.

Seis meses mais tarde, no dia 26 de março de 1979, os três homens reuniram-se novamente na Casa Branca para assinar o tratado de paz. Mas o caminho percorrido até a cerimônia de finalização do tratado, 40 anos atrás, foi bastante árdua.

Anwar Sadat, presidente do Egito, Jimmy Carter, presidente dos Estados Unidos, e Menachen Begin, primeiro-ministro de Israel, em 26 de março de 1979.

Assim que as conversações em Camp David foram encerradas, os detalhes estruturais dos acordos entre egípcios e israelenses foram amplamente negociados em Washington, no que então ficou conhecido como as conversações na Blair House. As questões discutidas eram bastante complexas: 

As discussões sobre a autonomia palestina foram ofuscadas pela finalização do acordo egípcio-israelense. 

Quando as conversações em Camp David tiveram início, em setembro de 1978, Sadat e Carter aspiravam muito mais que um tratado egípcio-israelense; eles davam ampla preferência a um processo irreversível que levasse à autodeterminação dos palestinos na Cisjordânia, à criação de um Estado palestino, ao fim dos assentamentos israelenses, à participação dos jordanianos nas negociações e, talvez, à inclusão de outros Estados árabes em um acordo de paz integral. Sadat e Carter queriam que Israel esperasse pelo menos cinco anos para reivindicar soberania sobre a Cisjordânia e a Faixa de Gaza.

Logo que chegou à presidência, Carter buscou alcançar incessantemente a paz integral no Oriente Médio. Ele não desejava mais acordos parciais como aqueles feitos por Richard Nixon, Gerald Ford e Henry Kissinger. Carter tinha pressa em convocar todos os líderes árabes para uma conferência com o objetivo de resolver as questões pendentes. Carter e seu conselheiro de Segurança Nacional, Zbigniew Brzezinski, não conseguiam perceber que tanto a Síria como a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) não estavam dispostas a aceitar a existência de Israel como uma realidade. Brzezinski admitiu mais tarde que foi totalmente ingênuo ao organizar uma conferência com o objetivo de alcançar a paz integral.

Por sua vez, os líderes israelenses de esquerda e direita tinham receio de Carter. Sua campanha presidencial em 1976 revelou uma atitude não muito favorável a Israel. Como presidente, ele foi o primeiro ocupante da Casa Branca a falar abertamente sobre uma pátria palestina, o primeiro a criticar repetidamente as políticas públicas israelenses, o primeiro a dizer que os israelenses deveriam negociar com a OLP e o primeiro a limitar a influência do lobby pró-Israel em Washington.

A sorte de Carter foi ter Begin e Sadat como parceiros de negociação. Eles eram líderes políticos determinados que possuíam fortes vontades, energia, coragem e visão.

Carter constantemente elogiava Sadat dizendo que ele era como um “irmão” que “jamais o desapontaria”. Sadat enxergava Carter como um representante dos interesses egípcios e árabes perante Israel. Brzezinski disse que “Sadat manipulava Carter como se fosse um violino”.

Em contrapartida, Carter achava que Begin era “um negociador difícil, pedante e muito duro”.

Difícil e contundente, Begin e sua equipe de negociadores israelenses, que incluía o ministro de Relações Exteriores Moshe Dayan, o ministro da Defesa Ezer Weizman e o futuro juiz da Suprema Corte de Israel Aharon Barak, repetidamente dificultaram os esforços conjuntos de Sadat e Carter para convencer Israel a aceitar um Estado palestino. Corretamente, Israel presumiu que tanto Carter como Sadat não abandonariam as conversações em Camp David sem um acordo entre Egito e Israel, relegando a questão palestina a um plano secundário.

Com personalidades e objetivos tão distintos, por que Sadat e Begin finalmente assinaram o tratado? Quais lições podem ser aprendidas com a experiência da década de 1970?

Primeiro, como nacionalistas fervorosos, Begin e Sadat defenderam suas prerrogativas entusiasticamente para que nenhuma entidade ou Estado ditasse o conteúdo ou o ritmo das negociações políticas e as exigências de segurança nacional de seus países. Ambos escutaram atentamente os mediadores dos Estados Unidos, mas a autodeterminação foi uma prerrogativa apenas deles. Ambos representaram Estados maduros, não desequilibrados, e cada um aceitou a legitimadade soberana do outro.

Segundo, alcançar acordos intensificou os seus respectivos interesses nacionais. Israel não pôde rejeitar esta oportunidade única de garantir o reconhecimento diplomático por meio de um tratado de paz com o Estado árabe mais populoso e poderoso. Afinal de contas, Sadat não conseguia admitir que sua histórica visita a Jerusalém, em novembro de 1977, não fosse recompensada com a retomada do Sinai, com a remoção dos assentamentos israelenses neste território e com o aprofundamento das relações com os Estados Unidos.

Terceiro, os líderes egípcios e israelenses fizeram concessões políticas fundamentais. O Egito “violou” o compromisso que manteve com o resto do mundo árabe desde 1967, de que “não haveria nem paz, nem negociação e nem reconhecimento de Israel”. Begin retirou os assentamentos apesar de receber muitas críticas nacionais. 

Quarto, desde 1979, dezenas de planos, mediadores, países e instituições tentaram e não obtiveram sucesso em suas tentativas de avançar as conversações entre árabes e israelenses além do tratado egípcio-israelense. Todas as tentativas fracassaram, exceto o tratado firmado em 1994 entre Jordânia e Israel. Samuel W Lewis, embaixador dos Estados Unidos em Israel entre 1977 e 1985, ao rever as negociações entre egípcios e israelenses sabiamente observou que: “O mediador não pode desejar um acordo mais que as respectivas partes”.

Com as lições aprendidas com estes precedentes e com o contexto de especulação atual sobre um outro esforço presidencial para unir as duas partes, as chances de sucesso parecem ser bem remotas. Em meio às difíceis condições regionais e complexas questões que separam Israel e seus vizinhos, os líderes praticamente não têm capacidade para fazer concessões políticas. Talvez nem mesmo D’s conseguirá alcançar a paz.

Ken Stein é professor de História Contemporânea do Oriente Médio, Ciências Políticas e Estudos sobre Israel na Universidade Emory. Também é fundador e presidente da organização sem fins lucrativos Centro para a Educação sobre Israel — Center for Israel Education (israeled.org).

Quadro 1

Efeitos do tratado de paz egípcio-israelense a longo prazo 

Quadro 2

Quatro décadas de mudanças: O Oriente Médio de 2019 é muito diferente da região em 1979:

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